Muito penalizadas pela crise económica, as ações do setor da energia solar tardam em recuperar e podem apresentar níveis de valorização atrativos. A catástrofe nuclear nipónica reavivou o interesse pelas energias alternativas e poderá constituir um ponto de viragem para o setor.
Um setor que suscita dúvidas
Apesar das vantagens da energia fotovoltaica, isto é, produzida a partir dos raios solares, as perspetivas de desenvolvimento deste setor levantam algumas dúvidas. Os custos de produção diminuíram bastante nos últimos anos, mas a energia fotovoltaicacontinua a ser mais cara a produzir do que os concorrentes convencionais (carvão, gás, petróleo e nuclear).
Embora tenham sido atribuídos subsídios ao setor nos últimos anos, a crise económica reduziu os orçamentos. Assim, a Alemanha, que representa mais de 50% do mercado mundial, decidiu cortar o preço de compra da eletricidade fotovoltaica em 16% em 2010, seguido de 13% em janeiro último. Porém, ainda que este facto penalize o setor, a energia fotovoltaica apresenta boas perspetivas.
Potencial elevado
Embora o mercado não deva crescer tão rapidamente como nos últimos anos, o crescimento da energia fotovoltaica poderá atingir 25% em média por ano nos próximos 10 anos.
Primeiro, a eletricidade fotovoltaica apresenta várias vantagens face aos outros modos de produção de eletricidade: os painéis solares podem ser integrados na arquitetura de uma construção, causam pouco incómodo e usufruem de uma fonte de energia gratuita e abundante, o sol.
Segundo, o abrandamento na Alemanha será compensado, a nosso ver, pelo crescimento do setor noutros países europeus e no resto do mundo (China, Índia, Estados Unidos, Canadá, Austrália, entre outros).
Por último, a subida do preço da energia, face aos níveis máximos atingidos pelo petróleo e à subida do preço da eletricidade por causa do impacto da catástrofe nuclear, torna as energias alternativas como a solar economicamente mais viáveis.
Rentabilidade sob pressão
O mercado da energia fotovoltaica registou uma ascensão fulgurante nos últimos dez anos e tem pela frente um futuro promissor, mas as cotações bolsistas das empresas do setor mostram um percurso diferente.
Após a euforia do período 2003-2007, as cotações bolsistas dos intervenientes históricos perderam fulgor, devido a vários fatores. Desde logo, as boas perspetivas de crescimento do setor (em volume) atraíram novos intervenientes, nomeadamente asiáticos, que criaram capacidades excedentárias e conduziram à queda dos preços.
Depois, um grande número de empresas assegurou as provisões de matérias-primas (silício e plaquetas de silício)através de contratos de longo prazo. Como consequência, os custos de aprovisionamento continuaram elevados, enquanto os preços de produção caíram. Assim, diversas empresas assistiram a uma queda dos lucros ao ponto de algumas registarem prejuízos em 2008 e 2009.
Finalmente, o corte dos subsídios, sobretudo na Europa, penalizou a rentabilidade do setor.
2010: ponto de viragem?
Em 2010, foi registado um crescimento dos lucros por grande parte dos intervenientes do setor, devido à retoma económica, subida do preço do petróleo e a restruturações implementadas para reduzir custos. Os clientes, principalmente alemães e italianos, anteciparam as reduções previstas dos preços de compra de eletricidade aplicáveis a partir de 1 de janeiro de 2011 através de encomendas ao longo de 2010. Como resultado, o forte crescimento dos volumes (+100% a nível mundial) compensou largamente o novo recuo dos preços (-14%).
Investir de forma seletiva
Não há dúvidas que o recuo previsto do preço dos módulos solares continuará a penalizar a rentabilidade das empresas do setor. Mas consideramos que o mercado sobrestima este risco para determinados atores.
Os futuros líderes do setor terão de reunir várias qualidades. Para continuarem competitivas, as empresas têm de ser capazes de encaixar novas reduções de preço, ou seja, aumentar a produtividade ao mesmo tempo que diminuem os cu-tos, uma vantagem que nos parece estar mais ao alcance dos intervenientes asiáticos.
A cotação dosintervenientes históricos do setor, na sua maioria ocidentais, não parece ter em conta a sua falta de competitividade ao nível dos preços e, de uma forma geral, não recomendamos a compra.
fonte:http://www.deco.proteste.pt/poupanca/energia-solar-oportunidade-a-vista-s4894724.htm