O Governo aprovou recentemente 15 novos projectos para centrais de energia solar. Os pedidos de informação prévia (PIP) atribuídos, num total de 34,5 MW, estão repartidos em energia fotovoltaica de concentração (CPV) e energia termoelétrica (CSP), numa aposta governamental clara nas novas tecnologias. O especialista em energia solar, António Vallêra sublinha que este é um investimento público de cerca de 150 milhões de euros, feito através da via tarifária.
«O elevadíssimo número de candidaturas [87], num país no qual a actividade na área é ainda quase nula, e no qual as organizações que têm trabalho feito se contam provavelmente pelos dedos de uma mão, parece demonstrar que a retribuição é muito atraente», defende Vallêra.
O docente da Universidade de Lisboa defende que o estímulo dado aos produtores não é de desprezar. «Põe-se a questão de saber se estaremos a pagar um preço demasiado elevado por este estímulo, se é justificável investir a este nível em todas estas tecnologias e se haveria formas alternativas de obter resultados semelhantes», considera.
No entanto, o especialista louva a «iniciativa e coragem» demonstrada pelo Executivo pela aposta na área da concentração solar, percebida como estratégica para uma futura intervenção significativa de Portugal no mercado global.
Os projectos deverão avançar brevemente, uma vez que o período legal de contestação junto da Direcção-Geral de Energia e Geologia já terminou. Os concentradores parabólicos e a tecnologia fresnel linear, entre outros, vão marcar a paisagem do Sul português ainda este ano.
Self Energy investe seis milhões de euros
Com início da implantação previsto para este primeiro semestre, a Self Energy vai instalar em Odelouca, Silves, uma central com capacidade de 1 MW baseada na tecnologia de discos solares, após ter visto a sua candidatura aprovada pela Direcção Geral de Energia e Geologia. De acordo com Rogério da Ponte, administrador da empresa, a implantação decorrerá por fases, após análise do comportamento dos dois primeiros protótipos, de 20 KW cada um.
O responsável defende que a mais-valia da tecnologia é a eficiência energética. «Estamos a falar de uma eficiência na ordem dos 26 a 28 por cento, podendo em certos casos chegar aos 30 por cento. Os colectores tradicionais têm eficiências de 20 por cento, no máximo», afirma. A calendarização prevista pela Self Energy prevê que a instalação dos 50 discos solares se prolongue até 2011.
Fomentinvest/Abengoa em Moura
Por seu lado, a parceria Fomentinvest/Abengoa pretende instalar em Moura uma central de concentração solar com tecnologia de torre. O projecto, com uma potência total prevista de 4MW, terá uma torre central, 200 heliostatos e um sistema de armazenamento térmico de uma hora. A eficiência esperada é de aproximadamente 22,8 por cento.
«Este sistema é único a nível mundial e a sua aplicação à central de Moura irá servir à demonstração de conceito», explica o administrador da Fomentinvest, Paulo Caetano. O projecto de Moura vai ser útil à empresa para testar três «conceitos inovadores». A turbina de vapor sobreaquecido de 4 MW, o sistema de armazenamento de sais fundidos acoplado ao sistema de Torre Central e o uso de novos materiais provenientes de tecnologias já estabelecidas, «de forma a reduzir os problemas relacionados com stress térmico», vão ser os grandes desafios tecnológicos dos promotores do projecto.
Dalkia avança em Faro
Também com uma central prevista para a região Sul portuguesa, em Faro, a Dalkia escolheu a tecnologia do Fresnel Linear, que permite concentrar a radiação em receptor tubular, produzindo vapor directamente para produção eléctrica. O administrador-delegado da Dalkia, José de Melo Bandeira, realça, no âmbito deste projecto, que a preocupação da empresa foi procurar soluções de engenharia de maior maturidade, com custos de implantação e manutenção mais controlados.
Além destas três tecnologias de CSP, o Governo apostou também no cilindro parabólico. A Energena e a Martifer Energia são os dois promotores de projectos neste domínio, com 4MW previstos em cada um. A Ramada Holdings, a Hyperion Energy e a Bragalux são promotores de centrais com a tecnologia de pratos solares, em paralelo com a Self Energy. Na tecnologia de Torre Solar, a Efacec tem também um PIP atribuído, enquanto a Tom tem previsto uma central de Fresnel Linear. Na tecnologia de CPV, a Reciclamas, a Sapec, a Tecneira, a LUZ.ON e a Glintt foram os promotores escolhidos.
Fonte:www.ambienteonline.pt